Manaus, 10 de maio a 12 de junho de 2012
Assim que chegamos a Manaus nos despedimos de nosso companheiro Mikey e seguimos para casa de nossos amigos Nadia e Vavá antes do previsto e ficamos muito mais tempo que o esperado. Pretendíamos ficar em Manaus pelo período de uma semana para comemorar o meu aniversário junto com minha amiga Déinha, como adiantamos a viagem pela Venezuela acabamos ficando um mês, visita assim ninguém merece, mas pacientemente eles nos aturaram.
A Nadia e o Vavá são nossos amigos de Florianópolis. Coincidentemente eles se conheceram em uma das festas de aniversário minha e da Déia, o Vavá como convidada da Déia e a Nadia como convidada minha. Eles começaram então a namorar um tempo depois da festa. Uns tempos depois o Vavá passou para um concurso de professor na UFAM, eles se casaram-se e hoje vivem por aqui em uma agradável casa e já começaram a formar uma família adotando o cachorro Zinga que é um cão feliz e adorável. Fomos muito bem recebidos e já aproveitamos o primeiro final de semana para fazer um delicioso Tambaqui na brasa. Por fim foi ótima a oportunidade de viver com eles por este período e compartilhar muitas boas experiências.
Para refrescar no calor da Amazônia, visitamos o flutuante da tia, que fica em um dos braços do rio Negro, trata-se de uma casa flutuante com estrutura de bar, restaurante com deck que vai se movendo de acordo com as baixas e cheias do rio. A água, apesar de escura, é muito limpa e cristalina. Foi interessante que nesse flutuante apareceram alguns golfinhos na proximidade e um rapaz comentou que alguém deveria estar naqueles dias, e realmente eu estava, fiquei curiosa e ele afirmou que sempre que uma mulher está naqueles dias eles ficam atraídos de alguma forma que ninguém explica. Se é verdade, não se sabe, mas por aqui existem muitas lendas e mistérios de botos e golfinhos que sempre são muito interessantes de se ouvir.
Aproveitamos também para conhecer juntos cachoeiras da região de Presidente Figueiredo. Lá existem diversas quedas para visitação, mas resolvemos conhecer, com o Vavá e a Nadia, a Cascata do Santuário, que possui também uma estrutura legal para passar o dia, com restaurante e piscina, a cachoeira estava bem refrescante. Lá, almoçamos pratos típicos, os peixes Tambaqui e Surubi, arroz de baião, um tipo de arroz temperado com feijão verde ou branco e pedacinhos de carnes defumadas ou secas, e farofas, mas não se empolguem, algumas são só para locais, pois são tão duras que quem não sabe comer corre o risco de perder as obturações, porém a variedade de farinhas é tão grande que provar é aconselhável, algumas são misturadas com coco. A comida daqui realmente é muito boa, mas alguns detalhes são bem diferentes da culinária do sul, é muito comum o uso de coentro e cominho na maioria dos pratos, e açúcar em excesso nos sucos e cafezinhos também. Não deixe de provar os diversos tipos de pimentas e os peixes frescos de rio que são deliciosos.
Tivemos também a oportunidade de conhecer posteriormente outra cachoeira com a Déinha, onde o fluxo da água estava intenso, mas o passeio realmente foi lindo apesar do grande susto que a Déia, que sofre de aracnofobia, tomou. Estávamos fazendo uma trilha por algumas grutas que tem ali na região, enquanto ela estava distraída observando a natureza, me dei conta de que havia em frente a ela um paredão com muitas teias enormes, falamos pra ela ter muita calma e sair dali em direção ao carro, quando ela se deu conta entrou em pânico, achamos que ela ia ter um treco, levou algum tempo até que ela se acalmasse.
A Nadia foi uma ótima companheira para uns tours pela cidade. Juntas visitamos diversos museus e ficamos impressionadas com a estrutura que eles possuem, todos edifícios históricos muito bem preservados e praticamente novos depois das reformas e algumas vezes até reconstrução total. Passamos pelo famoso Teatro Amazonas para conhecer e também para assistir uma ópera. Realmente é algo grandioso.
Interessante como tem incentivo a estruturas culturais e museus e me dei conta do quanto estamos atrasados em Santa Catarina nesses quesitos. Os museus mais interessantes são os museus em que conhecemos um pouquinho mais sobre a cultura dos indígenas da Amazônia. É possível ver redes maravilhosas com trançados complexos e super delicados, instrumentos musicais e tambores impressionantes, instrumentos de caça, instrumentos de tortura, como o furador de olhos, vestimentas usadas em rituais da fertilidade e de acasalamento.
Um dos objetos indígenas que também nos deixou chocadas, é uma prancha de madeira onde os pais amarram seus filhos com aproximadamente 3 anos e enchem ele de paulada para que ele tenha respeito aos pais, alguns não sobrevivem, mas os que sobrevivem duvido que digam um “a” para contestar qualquer coisa a seus pais.
Outro passeio muito legal que fizemos foi no domingo pela manhã a visita a feira no centro com diversas barracas de artesanato, comidas típicas e os maravilhosos cosméticos típicos da Amazônia, cremes, colônias, sais de banho e sabonetes perfumadíssimos.
Não podíamos também deixar de ir no CIGS, um Zoológico administrado pelo exercito que cuida de animais resgatados, por contrabando ou que estejam machucados. Tem cobras enormes, jacarés obesos, pumas, onças, macacos, um diversidade grande de pássaro entre outros.

Tinha uma placa informando que ele estava em tratamento, espero que esteja melhor, no CIGS de Manaus
Outro lugar também é o Bosque da Ciência, um parque onde tratam peixes bois, ariranhas e diversos animais da fauna local.
Os primeiros dias tivemos a sorte de estarem muito agradáveis, mas depois de um tempo o calor começou a dar sinal de vida e em um clima úmido e quente a sobrevivência é feita através de ar condicionado e banhos de rio. No fim conhecemos todos os shoppings da cidade para poder fugir um pouco do calor. O shopping Manauara tem um visual bem interessante, pois tem um jardim interno muito interessante com muitos Buritis.
Depois de alguns dias finalmente recebemos a nossa convidada de honra, a Déinha chegou e curtimos ainda mais das maravilhas da região.
No dia do nosso aniversário resolvemos celebrar assistindo a Orquestra Sinfônica do Amazonas, na saída resolvemos tomar umas cervejinhas, eis que encontramos uma turma do couch surfing, foi o suficiente para mudarmos o rumo de nossa noite, essas pessoas agradáveis e empolgadas nos convidaram para ir ate um bar de rock e lá fomos nós pra balada. Conhecemos a Adriana, ela foi prova de que imagem engana muito, elegante, com seu vestido justo e salto alto, para nossa surpresa ela foi sargenta no exercito. E conhecemos também a copia do Mark Zuckerberg, o Nephy, um americano completamente apaixonado pelo Brasil que estava a poucos dias de partida e o Wallace, que era movido à duracel, cheio de energia. Foi uma turminha muito animada que encontramos para festejar conosco. A balada estava muito boa, mas ou a galera lá era muito liberal ou eu e o Julio que estamos ficando antiquados, pois a pegação era grande, vi um grupo de cinco pessoas se beijando ao mesmo tempo, a verdadeira festa do sapinho, que por fim rendeu muitas risadas.
Pra continuar a comemoração no dia seguinte tivemos uma noite deliciosa com muito sushi elaborado pelo chef Vavá e ele também nos presenteou com um delicioso bolo feito em conjunto com sua assistente Nadia. Babem, delicioso pão de ló recheado com doce de leite caseiro e nozes caramelizadas e com cobertura de doce de leito com ameixas…hummmmmmmmm.
Fomos conhecer o Museu do Seringal, localizado na margem do Rio Negro com acesso apenas por barco que já faz do caminho um delicioso passeio pelos igarapés e flutuantes, muitos tão bem estruturados que chegam a ter ar condicionado.
Chegando lá, para nossa surpresa, a guia era uma senhora muito divertida de Itajaí que nos deu uma apresentação incrível de como vivam os seringueiros. O local é uma reprodução de como funcionava todo o processo de produção, tem a casa dos gerentes e donos dos seringais, o comércio de produtos, a igreja e os barracos dos pobres coitados dos seringueiros, vindos do nordeste com uma perspectiva de vida diferente, se depararam com um regime de escravidão. Não foram só milhares de árvores que sangraram, mas também muitos dos seringueiros que sucumbiram pela desumanidade em busca da fortuna e por aqui morreram de fome, pelos perigos da mata ou então assassinados para que não pudessem fugir e alertar os outros nordestinos para não virem viver o horror que eles viveram. A historia é triste, mas o local é um passeio realmente interessante.
Não podíamos deixar de fazer o passeio mais clássico de todos, ver o encontro das águas. Porém o valor deste passeio nos pareceu um pouco salgado. Foi então que descobrimos um caminho que levava a um mirante onde poderíamos ver o encontro. Não tivemos a oportunidade de colocar as mãos entre o Rio Negro e Solimões, sentir a diferença de temperatura e velocidade, e blá blá blá, entretanto foi muito divertido o nosso passeio em busca do mirante, nos perdendo em quebradas de estrada de chão e brincar com os urubus no mirante abandonado, hehehehe.
De todos os passeios que fizemos, a visita a Novo Airão foi o que superou todos as expectativas. O nome da cidade deve-se ao motivo de que existia uma cidade chamada Airão que foi invadida por formigas, todos os moradores abandonaram a cidade e reconstruíram então o Novo Airão. Não é raro historias como essa no Amazonas. Lá, fomos ver os botos se alimentarem. Não foi possível nadar com eles, o que era um restaurante onde os visitantes podiam alimentar e nadar com os botos, hoje é um centro de visitação controlado onde somente pessoas autorizadas podem alimentá-los. Esse controle evita stress ao animal e possíveis acidentes, mesmo assim é possível tocar neles, passar a mão, eles tem a pele bem lisinha. Pode parecer besteira, mas fiquei completamente emocionada com aquele momento de estar ali tão próxima desses animais tão delicados, foi um momento muito esperado e que me trazem muitas boas lembranças, inclusive da minha irmã novinha cantando a musica da Xuxa do boto cor de rosa hehehe.
Pra deixar a emoção ainda mais aflorada fizemos o passeio pelos igarapés das Ilhas Anavilhanas, entrar na mata com o barco sorrateiramente, com a cor da água escura sem que você possa ver o fundo, parecendo um espelho que reflete a copa das árvores, ouvir o canto dos pássaros, passar por cipós, teias de aranhas (essa parte deixou a Déia apavorada, mas ela foi muito corajosa, afinal não tinha pra onde correr) estávamos próximos da copa das árvores, o rio estava, em alguns pontos, a aproximadamente 8 metros acima do normal. O nosso barqueiro, um senhor extremamente simpático e divertido, fez questão de parar o barco por diversos momentos para mostrar sementes, para mostrar as árvores e pássaros. No caminho, passaram sobre nossas cabeças papagaios, tudo isso acompanhado de um sol dourado de fim de tarde. No retorno para Manaus teve um acidente no caminho e ficamos um bom tempo parados na estrada, queríamos aproveitar para sair do carro, mas na hora que a Déia abre a porta, tadinha, se desesperou com uma baita aranha descansando na beira da estrada, bem do lado da porta dela, é muito azar, acho que ela atrai.
Por causa da copa, projetos de maquiagem estão começando a aparecer para encantar os turistas e ficamos muito impressionados com a Ponta Negra. Um projeto grandioso na área nobre da cidade é claro, onde construíram parques com quiosques, um grande anfiteatro e uma praia artificial belíssima, tudo isso com vista para a faraônica ponte de milhões ($$$) que cruza o Rio Negro em direção a pequenas comunidades que dão um retorno financeiro irrisório ao PIB de nosso país. Mesmo assim é um ótimo passeio para se deliciar um Tacacá, que é um tipo de sopa com tucupi (caldo que é feito da folha de mandioca) e complementado com um pouco de pirão e camarões secos. Outra opção é provar uma tigela de açaí tradicional.
Tudo seria perfeito se não fosse o outro lado da moeda que para nós seria mais prioridade. O centro de Manaus fede a esgoto, tem muito lixo pela cidade, calçamentos precários, comunidades carentes e uma educação precária. Os professores universitários da região comentam que o nível dos alunos que chegam a universidade é realmente muito ruim, citam muitos como semi-analfabetos, o que torna o ensino por ali um verdadeiro desafio. Um professor da engenharia até comentou que alunos da quinta fase de engenharia não sabem o que é teorema de Pitágoras, vergonhoso!
Encontramos um antigo amigo do irmão do Julio em Manaus, coincidentemente em um supermercado, o João. O João é um paraense de quase 2 metros de altura com quem o Julio e o irmão jogavam basquete, os dois contra o João, é claro! Ele nos convidou para conhecer o Instituto Nokia de Tecnologia, onde trabalha, e então fomos lá conhecer um pouco mais sobre um aparelhinho que damos pouca bola, mas que inevitavelmente faz parte da vida de quase todos os cidadãos do mundo. Agora, se o aparelhinho não nos interessa, a tecnologia para testá-lo e fabricá-lo é muito mais atraente. Foi um ótimo passeio e também tivemos ótimas conversas e dicas com o João.
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