San Pedro de Atacama, 4 a 7 de fevereiro de 2012
São Pedro de Atacama, finalmente!
O Julio estava numa pilha de alegria, para ele este seria o climax da viagem. Claro que com relação a conhecer os gêisers, salares e lagos altiplânicos me dava ânimo. Mas estava farta de deserto. Eu queria um pouco de verde, de terra úmida, de chuva de mata fechada. Mesmo de saco cheio de deserto a região me surpreendeu muito. Não é a toa que a região tem essa boa fama.
A cidade de São Pedro de Atacama tem uma característica bem típica, as casas são feitas de barro, parecem casebres, mas quando você entra se surpreende como pode ficar legal esse estilo rústico associado à cultura moderna. A cidade vive praticamente do turismo, tem estadia para todos os bolsos e restaurantes. Uma ótima opção também é ficar nos pequenos povoados próximos de São Pedro, é uma opção para quem quer fugir um pouco desse ambiente mais turísticos e comer uma comida mais tradicional. Os campings são um pouco caros, por isso ficamos em um albergue mais ou menos, mas as companhias estavam ótimas, fizemos amizade com um casal de chilenos muito simpáticos e um espanhol divertidíssimo, estilo AAA (pilhas alcalinas). Incrivelmente, não batemos nenhuma foto na cidade… 😦
Queríamos fazer como primeiro passeio os gêisers, mas nos recomendaram começar por passeio mais tranquilos por causa da altitude. Iniciamos nosso passeio pelas lagunas altiplânicas, são lagos de degelo de vulcões que ficam a 4200 metros de altitude. No caminho em meio ao deserto encontramos uma pequena árvore solitária, a única vida em meio ao nada, corajosa ela estar ali com suas folhas verdes, longe de qualquer vestígio de água, apelidamos ela de “a sobrevivente”.
A caminho dos lagos fomos mascando folhas e tomando chá de coca. Impressiona como cada lago tem uma coloração completamente diferente. Apesar da altura não nos sentimos apunados. Apunado é o termo usado para as pessoas que sentem o efeito da altitude. A grande maioria tem muita dor de cabeça, enjôo, diarréia, gases, cansaço. Esta época do ano quase todas as lagunas desta região estão repletas de flamingos e não são todos iguais, tem três tipos com características bem diferentes. Encontra-se também muitas llhamas, vizcachas, vicunhas e gaivotas andinas.
Após as lagunas, parada para almoço em um pequeno povoado. Ensopado de carne acompanhado de quinua, cereal tradicional da região que é preparado de várias formas, a que experimentamos foi salgada, preparada como um arroz, leve e delicioso, também se serve doce, para comer com iogurte e frutas, fazem até suco. As plantações são lindas, em meio aos oasis do deserto, de repente você vê uma quantidade enorme de arbustos de um tom verde tão intenso, lá está a quinua, radiante.
Depois fomos visitar o salar de Atacama, uma paisagem bem exótica. São blocos irregulares de cristais de sal secos com lama. No meio do salar tem dois lagos onde é possível apreciar flamingos em busca de micro organismos para se alimentarem.
De volta a São Pedro fomos visitar as ruínas Pukara de Quitor, são ruínas em meio a um morro usado para os antigos atacamenhos poderem se defender em caso de ataques. Ao lado das ruínas tem um mirante incrível que te disponibiliza apreciar as ruínas, a cidade de São Pedro que é um oasis e uma formação geológica incrível de sedimentos de sal e terra que parecem ondas de mar. No topo do mirante tem uma homenagem aos atacamenhos que acreditavam que Deus os haviam abandonado, adivinha de quem era a homenagem? Isso mesmo, da igreja católica.
No dia seguinte nosso grupo mega animado acordou as 3:30h da manhã para ir aos gêisers, eles foram com um tour guiado e nós fomos seguindo eles de carro. Era noite, o caminho era iluminado pela lua cheia e ao longe dava pra ver as luzinhas vermelhas das diversas excursões que queriam chegar no melhor horário para apreciar os gêisers. Essa rota de, mais ou menos uma hora e meia, é famosa por ter diversos acidentes com brasileiros aventureiros que se perdem por essas serras de terra. Esses brasileiros, ai ai ai…
Quando chegamos fazia uns 4 graus negativos. Mas quem se importa, quando se vê nuvens de vapor e se ouve as borbulhas dos gêisers saindo da terra, você esquece o frio e se diverte andando pelo meio de mais ou menos 80 gêisers ativos. Alguns são muito engraçados, não parecem dar sinal de vida e de repente começa a cuspir água como se estivesse resfriado. Outros são com lama, outros formam uma piscina linda e transparente, mas cuidado, mesmo que você tenha uma grande vontade de se jogar, como alguns loucos já fizeram, não se arrisque, por que pode ser mortal.
Depois de diversos gêisers, fomos conhecer o mais temido de todos, o assassino. Este já foi responsável por duas mortes e um acidente muito feio. O primeiro tentou tirar uma foto muito próxima, ficou entorpecido pelo vapor e caiu dentro, por sorte a força da pressão o jogou pra fora, porém ficou hospitalizado por mais de 7 anos e por azar, ou ironia, quando saiu do hospital foi atropelado e morreu. O segundo estava bêbado e resolveu nadar, morreu duas horas depois. A terceira, uma guia que adorava subir no muro de proteção e se equilibrar em uma perna só, certo dia tchibum, ela está viva, mas não é mais guia e teve que implantar metade da pele do corpo. Então se lembrem disso quando forem visitar ok!
Depois da visitas você tem a oportunidade de tomar um delicioso banho de água termal, com direito a lama repleta de sais minerais. Um grupo de animadas chilenas que estavam no tour divertiram os meninos fazendo topless. O nosso companheiro espanhol que é fotografo, foi escolhido para tirar as fotos das gatinhas em seus modelitos naturais. Ele sonhava em trabalhar para a Nacional Geografic, mas depois desse momento pensou seriamente em tentar um cargo na Playboy! Sorry boys, não tiramos nenhuma foto.
Ao redor, além da paisagem de vulcões, você ainda aprecia as vicunhas, um tipo de veado mesclado com guanaco e os vizcachas, um coelho com rabo de esquilo. Este coelho é uma aula para os humanos, ele come o pasto da região e sua saliva acaba queimando o pasto, por isso para não eliminar todo o pasto ele come apenas uma parte, assim ele mantém a vida do pasto, dando equilíbrio para que continue tendo alimentação constante, muito diferente de nós que exterminamos tudo que vemos pela frente. Outra coisa bem interessante é que eles têm banheiros, suas fezes ficam todas concentradas em um canto, para manter a região limpa, incrível né?!
Na volta passamos por pequenos povoados, rios, criações de ovelhas, ninhos de pássaros e patos em meio a rios e cactos gigantes. Sempre nos surpreende como tem vida em meio ao deserto, de longe parecem apenas pedras e areia, mas de perto você encontra diversas espécies escondidas, inclusive flores de cores vivas.
De volta a São Pedro, hora de visitar o Vale de la Luna. Que cenário surpreendente, não é a toa que tem esse nome. Parece outro mundo, o vale é formado praticamente de sal e areia. Tem uma caverna de sal impressionante, por debaixo da fina camada de terra você vê o sal que mais parece um cristal esbranquiçado, quase um mármore.
Depois você vai em direção as três Marias, são torres de formação natural de sal em meio a um salar. E pra finalizar o por do sol, onde você sobe em direção a um ponto estratégico que tem um visual de toda a região. Sai de lá sem palavras, no nosso caso ouvindo um bom rock com cara de satisfação.
Pra finalizar uma janta com nossos divertidos companheiros do hostel.
Dia de seguir para mais uma aventura, passamos novamente em Calama para abastecer e comprar os últimos insumos para entrar na Bolívia.
No caminho o céu estava ameaçando uma forte chuva, a estrada era de terra em meio ao deserto. Segundo os moradores as condições estavam razoáveis, mas claro que com a chuva pioraria muito. A chuva começou, mas claro que nós, que somos de clima tropical, estamos acostumados com fortes chuvas, então seguimos a viagem em meio à lama. A princípio tudo tranquilo. O sol voltou a aparecer e apreciamos a sua despedida em meio às montanhas e vulcões. Depois de um tempo começamos a sentir o estrago de um chuvinha no deserto. As estradas viraram pequenos lagos. O carro praticamente nadava na estrada, trabalhadores estavam nos trilhos de trem tirando lama e nós apenas no 4×4 para conseguir chegar até a fronteira.
Chegamos tarde da noite, cansados com a tensão. Estacionamos o carro, abrimos a barraca e dormimos. Na manhã seguinte estávamos bem próximos do vulcão Ollague, bela vista da janela de nossa barraca para nos despedirmos do Chile.
Filed under: San Pedro de Atacama | Leave a comment »